Comentário de Alexandre Garcia:
Algumas das medidas estão em pauta no Congresso desde maio do ano passado, quando uma série de rebeliões sacudiu São Paulo. Os fatos mostram que as intenções duram três semanas e depois são substituídas pelos interesses da corporação política. Agora o horror das ruas corre o risco de ser substituído pela preservação do Fundo Partidário para os grandes partidos, por exemplo.
O que aconteceu ontem no Maracanã é bem simbólico. Fez-se um minuto de silêncio e depois o jogo continuou. Há dez anos se fala nisso, quando menores de idade mataram o índio Galdino Pataxó numa fogueira de álcool, em Brasília.
Alguns dizem que agora chegamos ao fundo do poço. Engano. O fundo do poço já está muito acima de nós. Já banalizamos a morte, o horror. Fomos além do fundo do poço quando torturaram e mataram a fogo o jornalista Tim Lopes, no Rio de Janeiro, há cinco anos. Aí o país ouviu as autoridades e os legisladores falando em endurecer as leis.
Ouvimos de novo em 2003 quando a menina Gabriela, de 14 anos, foi morta a tiro na escadaria do metrô, na Tijuca, no Rio de Janeiro. E de novo ouvimos quando um menor chefiou o trucidamento de um casal de adolescentes no Embu, em São Paulo.
Nos ataques em São Paulo, em maio, ouviu-se tudo outra vez. Nos ataques no Rio, o resultado foi uma parada militar garbosa da Força Nacional de segurança pública. Depois que mataram João Hélio, um pai foi morto diante do filho em assalto no Rio e outro pai foi morto a tiros por assaltante diante da filha, na garupa de sua moto em São Paulo.
É diário o crime. A reação dura um minuto de silêncio e o jogo continua. Não se combatem coisas concretas. Combatem-se abstrações. Combate-se a violência e não o bandido. Pede-se paz e não a lei. Parecer que falar em lei, não pega. Diz-se que tolerância zero não faz bem ao espírito tropical.
No improviso de posse, o presidente Lula falou em degradação social pela perda de valores, que precisa ser resolvido a partir de casa. Disse que o crime precisa ser combatido com a mão forte do estado.
Parece que o país fingiu não ouvir, porque continuava passando no sinal fechado, estacionando na calçada, jogando lixo no chão, fazendo barulho para o vizinho, sonegando, desrespeitando faixa de pedestre. Em suma, enfraquecendo a lei que quer que o proteja.
Aqui, não há a cultura de que cada um é o defensor da lei e a lei fica desamparada. Vai-se contornando o problema, enquanto ele nos domina. Palavrório substitui ação.
O crime virou criminalidade, dando mais tempo ao bandido, enquanto se pronuncia o palavrão, para inflar a estatística do horror.
Assista aqui.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007
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